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Ao menos metade dos enfermeiros do estado de SP já sofreu agressão no ambiente de trabalho, diz levantamento

Segundo pesquisa feita pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo a pedido da TV Globo, principal motivo relatado foi demora no atendimento.
  • Categoria: Geral
  • Publicação: 18/08/2023 02:12
  • Autor: Por Laura Cassano, SP2 — São Paulo

A pedido do SP2, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren) falou com mais de 2.208 profissionais de saúde. As respostas mostraram que praticamente metade deles já sofreu algum tipo de agressão no trabalho, e o principal motivo relatado foi a demora no atendimento.

De acordo com o Coren, a maior parte das agressões é verbal e psicológica, seguida de física e até sexual. Pelos relatos, a violência é, na maioria das vezes, praticada por pacientes, familiares e acompanhantes.

Os profissionais contaram que as agressões ocorrem por causa da demora no atendimento, estrutura e insatisfação com a assistência recebida.

“Primeiro [é necessário] a conscientização da população. Não adianta agredir um profissional de saúde, um profissional de enfermagem. A violência não vai melhorar nenhuma dessas condições. Segundo, quando nós falamos de poder público, a ideia é que esses gestores possam estar mais conscientes para situações que nós vivemos hoje no serviço público”, comenta James Francisco, presidente do Coren São Paulo.

Na capital paulista, o cenário é semelhante. Secretaria Municipal da Saúde apontam que o número de denúncias de violência contra esses profissionais, sendo agressões verbais, psicológicas e até físicas.

Em 2023, até o momento, foram registrados 427 casos. Em 2022, foram 372. De acordo com o levantamento, 278 em 2021. No primeiro ano da pandemia de Covid, 2020, foram 211.

A técnica em enfermagem Evelyn Cedro. Decidiu seguir a carreira depois de ver o pai, morto há 8 anos, ser cuidado enquanto tratava o câncer.

Quando ela trabalhava na UPA São João, em Guarulhos, na Grande São Paulo, foi agredida por uma paciente. Segundo ela, a mulher já tinha batido em um colega.

“Vi que a pessoa que agrediu estava filmando a gente. Eu peguei a ficha dela porque fui tirar foto, porque se caso ela fizesse alguma coisa eu tinha os dados dela. Fui para o outro lado da UPA, ela me seguiu. Veio e começou a jogar piadinha para me instigar, tentar me deixar nervosa, me desestabilizar. Ela veio, arrancou a ficha da minha mão, rasgou e me deu um tapa no rosto”, lembra.

Evelyn passou a ter medo de ir para o trabalho e pediu transferência.

Uma semana antes, câmeras da UPA flagraram a agressão contra uma colega dela, em que um paciente lhe deu dois tapas.

Nos últimos 12 meses, o Conselho Municipal de Saúde de Guarulhos registrou mais de 170 agressões verbais e 30 físicas, em diversas unidades.

“A demora nas consultas, muitas vezes as UBSs não tem internet porque os fios são roubados, falta energia, a pandemia, todo mundo ficou em casa e não fazia as consultas e de repente termina a pandemia. E as pessoas precisam retomar seus atendimentos médicos. Quando elas vão a UBSs ubs, em menos de 3 horas não sai de lá de dentro, e todo mundo fica estressado, cansado, com a demora e vai acontecendo isso”, diz Zelia de Brito, presidente do Conselho Municipal de saúde do município.

A Secretaria Estadual da Saúde informou que, em todo o estado, foram registradas 39 agressões verbais ou físicas em profissionais de enfermagem só este ano. E que cada instituição tem um canal de denúncias e acolhimento às vítimas.

A Prefeitura de Guarulhos disse que os funcionários são orientados a registrar boletim de ocorrência, que pede apoio da GCM, faz o procedimento para acidente de trabalho e presta apoio ao servidor, inclusive psicológico.

A prefeitura disse ainda que criou um grupo com representantes de várias áreas da saúde para definir estratégias para minimizar esse tipo de ocorrência, e que já existe um canal para denúncias na Ouvidoria municipal de Guarulhos.